24 de novembro de 2016

Mais uma mensagem IV

Sofia precisava dormir e descansar pois estava a sentir-se um farrapo. Após o episódio da casa-de-banho tomou um banho bem quente e vestiu o pijama. Entrançou o cabelo longo e encaracolado e  procurou, em todas as gavetas da casa de banho, um elástico quando se apercebeu que tinha um no seu pulso. Prendeu a trança e olhou-se ao espelho, tinha os olhos inchados pois depois de vomitar, sentara-se no chão e chorara por um tempo que não sabia precisar, 5 minutos? Meia hora? Pela vermelhidão e inchaço dos mesmos poderia bem ter sido por umas boas duas horas.
Não sentia grande fome mas sabia que tinha de se alimentar e não podia deixar que o fantasma do seu passado, afinal bem real e mais perto do que imaginava a deixasse mergulhar numa depressão profunda como havia acontecido há alguns anos atrás. Preparou e comeu uma sandes de ovo e alface e sentiu-se reconfortada.
Deitou-se no sofá, tapou-se com a manta de crochet feita por si e de que se orgulhava muito e ligou a televisão. Kiko resolveu aparecer enroscando-se aos pés da sua dona e fechando logo de seguida os olhos para dormir mais um bocadinho.
Sofia sorriu sentando-se para fazer umas festas no pelo fofo do seu bichano.
De repente lembrou-se que desde que chegara a casa não voltara a olhar para o telemóvel. Foi buscá-lo e a medo olhou para o écran enquanto o desbloqueava...
Oh não... 3 chamadas e uma mensagem. Tinha quase sempre o telemóvel no silêncio por isso era normal não ouvir toques de chamada.
Uma chamada da mãe e duas da sua irmã Rita... mas e a mensagem... Revirou os olhos, mordeu o lábio inferior como que a refrear a curiosidade! Só podia ser do Filipe...
Abriu-a e agora já reconheceu o número, número que decorara havia muitos anos e que tinha tentado esquecer, mas obviamente ficara guardado numa daquelas gavetas da nossa memória que nunca queremos abrir mas que quando o fazemos, saltam pequenos pedaços da nossa vida que preferíamos ter esquecido para sempre. Filipe era uma dessas memórias...
"Então minha querida, não gostaste de saber que estou de volta? Eu não te esqueci! Quando te apetecer telefona-me. Do teu Filipe"
Do meu Filipe? Do meu Filipe??? Lágrimas começaram a escorrer pelas faces de Sofia à medida que mais memórias saltavam daquela gaveta que ela pensava ter trancado e deitado fora a chave...
Ele não podia ter voltado... ele tinha prometido que não me procuraria nunca mais. E Sofia acreditara e refizera a sua vida baseada nessa promessa.
Kiko remexeu-se e olhou para Sofia. Espreguiçou-se e Voltou a enroscar-se para um second round de soninho no sofá.
Sofia voltou a olhar para o telemóvel que começara a vibrar na sua mão. Era a sua irmã Rita mas antes de atender tinha que se recompor pois Rita tinha um sexto sentido apuradíssimo. Respirou profundamente, limpou as lágrimas com a manga do pijama e atendeu:
- Estou Ritinha! Tudo bem mana?
-Alô mana - era sempre assim que Rita iniciava as suas chamadas - Nem imaginas com quem é que eu estou a jantar...
-Não me digas que conseguiste levar a mamã à nova hamburgueria que fomos no outro dia? -questionou Sofia com um sorriso, pois nunca tinham visto a mãe a comer hambúrgueres, dizia que era comida de adolescentes.
- Frio, muito frio... Quer dizer acertaste no restaurante mas não é a mamã -disse Rita soltando uma daquelas gargalhadas contagiantes da sua irmã. 
- Ó mana sei lá... com o teu PT do ginásio???- E foi a vez de Sofia soltar uma gargalhada visto que a Rita tinha uma paixoneta recente pelo seu personal trainer mas não queria admiti-lo.
- Achas? Tonta ... que parvoíce, porque haveria de jantar com o João? Olha já estragaste a brincadeira... Estou a jantar com o Filipe, lembras-te dele? ...

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